O design thinking vem ganhando destaque como uma poderosa abordagem para resolver problemas de forma criativa e colaborativa. Embora tenha surgido no universo da inovação e do design de produto, essa metodologia tem se mostrado extremamente eficaz quando adaptada para o contexto educacional.
Neste artigo, você vai entender o que é design thinking na educação, porque ele é tão relevante e, principalmente, como aplicá-lo de forma prática na sala de aula com seus alunos.
Sumário
- O que é design thinking e por que usar na educação
- Etapas do design thinking aplicadas à prática pedagógica
- Exemplos de atividades com design thinking na educação
- Desafios comuns e como superá-los
- Design thinking e o desenvolvimento de competências da BNCC
- Quer transformar sua prática docente com metodologia inovadora?
O que é design thinking e por que usar na educação
Em essência, o design thinking não é apenas um método, mas uma abordagem de pensamento centrada no ser humano.
Diferentemente do ensino tradicional, no qual o professor detém o saber e o transmite, o design thinking foca na resolução colaborativa de problemas reais, partindo das necessidades das pessoas envolvidas — no nosso caso, os alunos e a comunidade escolar.
Estamos falando de empoderar o estudante. Ele deixa de ser um receptor passivo e passa a investigar, criar, testar e refinar soluções.
Isso o conecta diretamente aos princípios das metodologias ativas de aprendizagem, onde o “aprender fazendo” (hands-on) é a regra de ouro.
Benefícios para a sala de aula
Aplicar a metodologia ativa design thinking traz vantagens tangíveis tanto para quem ensina quanto para quem aprende:
- Engajamento: Os alunos se sentem donos do processo, o que aumenta a motivação intrínseca.
- Colaboração: A metodologia exige trabalho em equipe, fortalecendo habilidades sociais.
- Resiliência: O erro é visto como parte do aprendizado, não como fracasso.
- Interdisciplinaridade: Projetos de design thinking frequentemente cruzam fronteiras entre matérias, como conectar Geografia e Matemática para resolver um problema urbano.
Etapas do design thinking aplicadas à prática pedagógica
Para implementar o design thinking de forma eficaz, é necessário seguir um fluxo de trabalho. Embora flexível, a estrutura clássica divide-se em cinco etapas fundamentais. Veja como adaptá-las para o contexto pedagógico.
Empatia: conhecendo os alunos e suas necessidades
Tudo começa com a compreensão profunda do outro. Na educação, a etapa de Empatia serve para que os alunos entendam o problema que precisam resolver sob a ótica de quem o vivencia, ou para que o professor entenda as dores da turma.
Como aplicar: Não inicie um projeto com suposições (“eu acho que eles querem isso”). Vá a campo. Se o projeto é sobre “melhorar o recreio”, os alunos devem observar o recreio, entrevistar colegas de outras séries e funcionários da limpeza.
Ferramentas sugeridas:
- Mapa de Empatia: Um quadro visual onde se preenche o que o usuário (aluno/comunidade) vê, ouve, fala, faz, pensa e sente.
- Escuta ativa: Rodas de conversa nas quais o objetivo é ouvir sem julgamentos prévios.
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Definição: formulando o desafio educacional
Após coletar dados na fase de empatia, é hora de sintetizar. Muitas vezes, o problema que achávamos que existia é apenas um sintoma. A etapa de Definição serve para criar um foco claro para o projeto de design thinking.
Exemplo prático: Imagine que a turma investigou o “desperdício de merenda”. Na definição, eles podem descobrir que o problema não é a comida ruim, mas sim o tempo curto para comer. O desafio muda de “Como fazer uma comida melhor?” para “Como otimizar o tempo da fila no refeitório?”.
Transforme isso em uma pergunta norteadora: “Como podemos... [resolver tal coisa] para [tal pessoa]?”
Ideação: geração de ideias criativas com os alunos
Com o problema definido, entra-se na fase de brainstorming. Aqui, a quantidade importa mais que a qualidade inicial. O objetivo é destravar a criatividade e evitar críticas precoces que matem boas ideias.
Dicas para condução:
- Suspensão do julgamento: Nenhuma ideia é “boba” nesta fase.
- Construção coletiva: Incentive o uso de “e se...” ao invés de “mas...”.
- Ferramentas: Use post-its coloridos (físicos na parede da sala ou digitais, como Padlet e Miro) para agrupar ideias semelhantes.
Prototipagem: construindo soluções junto com a turma
É hora de tirar as ideias do papel. A prototipagem no design thinking educacional não exige tecnologia de ponta. Trata-se de criar uma representação física ou visual da ideia para ver se ela para em pé.
Formas de prototipar na escola:
- Baixa fidelidade: Uso de papelão, massinha de modelar, sucata e desenhos.
- Encenação (Roleplay): Se a solução é um serviço (ex.: uma nova forma de atendimento na biblioteca), os alunos podem atuar para demonstrar como funcionaria.
- Storytelling: Criar uma história em quadrinhos que mostre a solução em ação.
Esta etapa conecta-se fortemente com a cultura maker e a aprendizagem criativa.
Teste: colocando em prática e avaliando o aprendizado
O protótipo é apresentado para o público-alvo (outros alunos, professores, pais etc.). O objetivo não é vender a ideia, mas aprender com o feedback.
Como avaliar: Peça aos alunos que apresentem o protótipo e façam três perguntas à plateia:
- O que funcionou bem?
- O que poderia ser melhorado?
- O que não foi entendido?
Com base nisso, a turma volta para a sala, ajusta o projeto e refina o aprendizado. É um ciclo contínuo de melhoria.
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Exemplos de atividades com design thinking na educação
Para visualizar melhor como o design thinking opera em diferentes níveis de ensino, confira estes três cenários práticos:
1. Ensino Fundamental: Redesign do espaço de leitura
- Desafio: A biblioteca da escola é pouco visitada.
- Atividade: Os alunos do 4º ou 5º ano entrevistam colegas para saber por que não vão à biblioteca (Empatia). Descobrem que acham o espaço desconfortável. Eles desenham e criam maquetes com caixas de sapato de como seria o “cantinho de leitura ideal” (Prototipagem), incluindo almofadas e gibis. A escola implementa as mudanças mais viáveis (Teste).
2. Ensino Médio: Soluções para sustentabilidade local
- Desafio: O excesso de lixo eletrônico no bairro.
- Atividade: Alunos do 2º ano do Ensino Médio mapeiam onde o lixo é descartado (Empatia/Definição). Eles idealizam uma campanha de conscientização e um ponto de coleta na escola (Ideação). Criam um aplicativo protótipo (no papel ou ferramentas simples de app design) que mostra pontos de coleta e gamifica o descarte (Prototipagem). Apresentam para a associação de moradores (Teste).
3. Educação de Jovens e Adultos (EJA): Empreendedorismo social
- Desafio: Desemprego na comunidade local.
- Atividade: A turma discute as habilidades que já possuem (culinária, costura, reparos). Utilizam o design thinking para criar um modelo de negócio cooperativo. Prototipam o serviço oferecendo um “dia de degustação” ou “dia do reparo solidário” na escola para testar a aceitação do público e o valor do serviço.
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Desafios comuns e como superá-los
Implementar o design thinking na educação não é isento de obstáculos. É comum encontrar resistências, mas elas podem ser contornadas.
- Falta de tempo: O currículo escolar é apertado.
- Solução: Não trate o design thinking como uma disciplina extra, mas como uma ferramenta para ensinar o conteúdo existente. Use-o para ensinar História (resolvendo problemas do passado) ou Biologia (soluções ambientais).
- Barulho e “bagunça”: Salas ativas são mais ruidosas.
- Solução: Estabeleça combinados claros desde o início. O “caos criativo” é produtivo, mas precisa de momentos de foco e silêncio para síntese.
- Resistência à mudança: Alunos acostumados com aulas expositivas podem estranhar a autonomia.
- Solução: Comece pequeno. Faça um “mini desafio” de uma aula antes de propor um projeto semestral. Mostre que a voz deles tem valor real.
Design thinking e o desenvolvimento de competências da BNCC
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) exige o desenvolvimento de competências que vão além do conteúdo técnico. O design thinking é uma das ferramentas mais potentes para atender a essas exigências e pode contribuir com os desafios da educação no Brasil.
Ao adotar essa metodologia, você trabalha diretamente:
- Pensamento crítico e criativo (competência 2): Ao investigar causas e propor soluções inovadoras.
- Empatia e cooperação (competência 9): A base do design thinking é olhar para o outro e trabalhar em equipe.
- Comunicação (competência 4): Os alunos precisam argumentar, defender suas ideias e apresentar seus protótipos.
- Argumentação (competência 7): A tomada de decisão durante o projeto exige basear-se em dados e fatos observados na fase de pesquisa.
Portanto, utilizar o design thinking não é “inventar moda”, mas sim uma estratégia alinhada às diretrizes oficiais da educação brasileira para formar cidadãos integrais.
Quer transformar sua prática docente com metodologia inovadora?
O design thinking na área da educação é muito mais do que post-its coloridos na parede: é uma mudança de mentalidade. Ele convida professores e alunos a saírem da zona de conforto e encararem o aprendizado como uma jornada de descoberta, empatia e construção conjunta.
Ao aplicar as etapas de empatia, definição, ideação, prototipagem e teste, você prepara seus alunos não apenas para passarem em provas, mas para resolverem problemas complexos do mundo real.
Não tenha medo de começar. Adapte a metodologia à sua realidade, aos seus recursos e ao perfil da sua turma. O importante é dar o primeiro passo rumo a uma educação mais ativa e significativa.
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